quarta-feira, 16 de setembro de 2009

O Brasil no Seminário Latino Americano

Carta da ABEPSS aos participantes do Brasil
no XIX Seminário Latino-Americano de Escolas de Trabalho Social


É com muita satisfação que a ABEPSS, com sua coordenação de Relações Internacionais e a atual representante do Brasil no Colegiado da ALAEITS dirigem-se aos mais de 200 brasileiros inscritos neste seminário, confirmando o interesse e a contribuição do Brasil na consolidação da Associação Latino-Americana de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ALAEITS) e na articulação do Serviço Social no continente.
Efetivamente representamos a maior delegação, o que em muito fortalece esta entidade que teve a sua primeira gestão, eleita no Chile em 2006, conduzida pelo Brasil. Isto nos compromete e nos desafia. Queremos aprofundar nosso conhecimento sobre o continente e seus desafios na atualidade. Queremos estreitar relações pessoais e institucionais. Queremos divulgar a produção do Serviço Social brasileiro e conhecer o pensamento dos nossos colegas na América Latina. Oportunidades de intercâmbio acadêmico como estas são poucas e, portanto, queremos fazer de todos os mais de 200 brasileiros já inscritos, embaixadores, representantes do Brasil e articuladores da América Latina, num seminário que foi preparado para receber todo o serviço social latino-americano, com sua diversidade e pluralidade.
No evento haverá Assembléia da ALAEITS, para eleição de uma nova diretoria desta entidade e quando será eleita também uma nova representação do Brasil em seu colegiado, ou seja, há uma dimensão política e programática decisiva neste evento. Queremos, ABEPSS e Representação Brasileira na ALAEITS, convocar uma reunião da delegação brasileira, para o dia 5 de outubro, às 20:00 h., no Salão Hotel em que ficará hospedada a Comissão Organizadora para debater nossa estratégia para o seminário globalmente e este momento em especial, socializar informações e instaurar uma dinâmica democrática como aconteceu no Chile. Contamos com a presença de todas e todos.
Chamamos a atenção para alguns procedimentos operacionais, para além do que está divulgado na página do evento: a entrada no Equador é com passaporte; no Equador todos os custos são pensados em dólar, portanto, é necessária a compra de dólares para a viagem e o raciocínio de custos em dólar; não esqueçam de tomar a vacina de febre amarela (em postos de saúde e aeroportos e com validade de 10 anos) e vejam na página da embaixada do Equador se há alguma outra exigência nesse sentido; ainda quanto à saúde, devemos continuar cuidando dos procedimentos preventivos da Gripe A H1N1.
Chegando ao Equador, e sobretudo ao evento, todo nosso esforço para superar barreiras idiomáticas será “muy importante”. Vamos gastar nosso espanhol e mesmo o “portunhol” para que sejamos ouvidos e compreendidos. A ALAEITS está fazendo essa solicitação aos hispano parlantes para que falem devagar, enfim, para que a comunicação aconteça.
Um abraço, aproveitem o Seminário e desfrutem dos encantos do Equador.

Elaine Rossetti Behring
Presidente da ABEPSS

Carlos Montaño
Coordenador de Relações Internacionais da ABEPSS

Josefa Batista Lopes
Representante do Brasil no Colegiado da ALAEITS

terça-feira, 15 de setembro de 2009

ABEPSS, CFESS e ENESSO soltam Carta Aberta


Carta Aberta aos Estudantes e Trabalhadores dos Cursos de Graduação a Distância em Serviço Social no Brasil


Os delegados, observadores e convidados reunidos entre os dias 6 e 9 de
setembro de 2009, em Campo Grande (MS), no 38º Encontro Nacional,
fórum máximo de deliberação do Conjunto CFESS/CRESS regulamentado pela Lei 8662/93, e as
entidades nacionais e regionais de Serviço Social – Conselho Federal de Serviço Social
(CFESS) e Conselhos Regionais de Serviço Social (CRESS), Associação Brasileira de
Ensino e Pesquisa de Serviço Social (ABEPSS) e Executiva Nacional de Estudantes de
Serviço Social (ENESSO) - dirigem-se aos estudantes e trabalhadores envolvidos com o
oferecimento de cursos de graduação à distância em serviço social para fazer alguns
esclarecimentos e reflexões, necessários frente ao debate nacional em curso.
Desde o ano 2000, quando realizamos seminário conjunto das três entidades
nacionais para uma análise da LDB e suas conseqüências para o ensino superior (Cf.
Revista Temporalis nº 1, 2001), vimos mantendo uma posição crítica ao estímulo das
forças de mercado na educação, incorporado largamente pela legislação brasileira.
Naquele momento rejeitamos os cursos seqüenciais, que implicavam a diminuição da
carga horária da formação e sua banalização, bem como a graduação à distância, cujos
efeitos deletérios já eram identificados. Fazíamos ali também a crítica dos mestrados
profissionais e ao aligeirando da formação de pós-graduação. Portanto, já são quase 10
anos de discussão.

As posições que vimos tomando não são individuais, mas produto de
um processo coletivo
, fóruns de debate, documentos e manifestações, além de teses e
publicações que expressam significativo acúmulo sobre o assunto. Assim, não são
posicionamentos e atitudes políticas e institucionais fundadas no desconhecimento, na discriminação e no preconceito, e menos ainda são dirigidas a vocês, estudantes e trabalhadores
, que se mobilizaram para esses cursos por inúmeras razões que compreendemos, apesar da nossa discordância para com a política brasileira de ensino
superior. É legítimo o anseio dos estudantes de ter acesso ao ensino superior, num país
onde 51% da População Economicamente Ativa (PEA) não tem emprego com contrato
de trabalho e 15% não tem ocupação. O ensino superior tem sido um privilégio de
poucos, sendo mais de 80% oferecido em instituições privadas. Esta é a condição da
oferta de vagas presenciais e de emprego propiciada por um projeto de nação que não
atendeu historicamente aos anseios das maiorias. Este direito, no entanto, deve ser
alcançado com qualidade e condições de oferecer aos estudantes formação crítica que os
prepare não apenas para o exercício profissional, mas também amplie as condições de
atuar em um mundo cada vez mais complexo.


Não estamos discutindo a educação a distância em todas as suas modalidades.
Pensamos que muitas de suas técnicas e invenções pedagógicas podem ser suporte ao
processo de ensino-aprendizagem presencial em vários de seus níveis. Queremos a
tecnologia e a interatividade virtual em favor da qualidade. O Conjunto CFESS/CRESS
e a ABEPSS, em articulação com a Universidade de Brasília, por exemplo, estão
realizando um curso de especialização nesta modalidade, envolvendo cerca de 800
assistentes sociais, em sua segunda edição (o primeiro ocorreu entre 1999 e 2002).
Portanto, não somos avessos à tecnologia e atrasados frente às inovações educacionais.
Diferente de um curso de especialização ou extensão, a graduação não é um
curso complementar, de atualização profissional. Estamos falando da formação básica!
Nela o aluno apreende e participa de processos pedagógicos presenciais vinculados à
pesquisa e à extensão. Nesse processo, tem contato com os fundamentos da vida social e
da profissão, a ética profissional, e as competências e habilidades profissionais previstas
na regulamentação da profissão, inclusive por meio do estágio supervisionado com os
requisitos presentes nas Diretrizes Curriculares da ABEPSS, do MEC, na Lei de Estágio
(11788/2008) e na Resolução CFESS 533/2008, que regulamenta a supervisão direta de
estágio no Serviço Social. Nossa profissão tem como matéria as expressões da questão
social. Sob cada parecer, cadastro e encaminhamento que o profissional realiza há vidas,
cujas trajetórias podem ser modificadas por uma intervenção profissional que não
consiga perceber as inúmeras facetas da questão que se apresenta, que não consiga ir
além das aparências, que não tenha a investigação como um elemento de seu trabalho,
que não compreenda as conseqüências éticas das escolhas profissionais.

Destacamos ainda alguns princípios e elementos do perfil profissional previstos
nas Diretrizes Curriculares da ABEPSS (1996):
1. Favorecer a dinamicidade do currículo por meio de disciplinas,
oficinas, seminários temáticos, atividades complementares;
2. Rigor teórico, histórico e metodológico na análise da realidade
social e do Serviço Social;
3. Adoção de uma teoria social crítica que possibilite a apreensão
da totalidade social;
4. Considerar as dimensões investigativa e interventiva da
formação profissional, e a relação teoria e realidade;
5. Padrões de desempenho e qualidade idênticos para cursos
diurnos e noturnos
6. Indissociabilidade nas dimensões de ensino, pesquisa e extensão;
7. Exercício do pluralismo com debate sobre as várias tendências
teóricas em luta pela direção social da formação profissional;
8. Ética como princípio formativo perpassando a formação
curricular;
9. Indissociabilidade entre estágio e supervisão acadêmica e
profissional


Esses princípios se articulam a um perfil profissional com a capacidade de
apreender as particularidades da constituição e desenvolvimento do capitalismo e do
Serviço Social no país, desvelando as possibilidades de ação contidas na realidade, bem
como de exercer a profissão cumprindo as competências e atribuições previstas na
Legislação Profissional em vigor.


As informações sobre a implementação dos cursos de graduação a distância
mostram que esses princípios e perfil não estão assegurados nesta modalidade
. O dossiê
elaborado pelo CRESS 17ª Região (ES), por exemplo, explicita que não foi encontrada
nenhuma atividade de pesquisa e extensão nos projetos pedagógicos dos cursos
oferecidos. A indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão tem assegurado uma
ampla produção científica e bibliográfica na área, articulando inclusive graduação e pósgraduação.
Sabemos, evidentemente, que há dificuldades de implementação deste
princípio também no ensino presencial, sobretudo nas instituições privadas de ensino
superior (IES), em função da precarização do trabalho docente com ausência de
destinação de carga horária para pesquisa e extensão, dentre outras razões. Contudo,
existem esforços docentes e discentes nesses espaços privados para assegurar sua
materialização, principalmente dos segmentos mais orgânicos à ABEPSS. Na graduação
à distância, considerando sua lógica interna, centrada no ensino virtual ou mediado por
mídias, esse princípio é inviabilizado.

O estágio supervisionado é outro aspecto grave da graduação à distância, no qual
se concentram inúmeros obstáculos para garantir os critérios pedagógicos para uma
formação de qualidade e requisitos legais da profissão, considerando especialmente o
exercício da supervisão direta com a presença do supervisor de campo e acadêmico.
Elas mostram a ausência de encaminhamentos institucionais para garantir campos de
estágio aos estudantes, que assumem a responsabilidade de sua inserção nos campos,
gerando muitas tensões. Vários municípios não comportam a absorção da quantidade de
estudantes dos cursos a distância e presenciais. Há municípios pequenos, com um
número reduzido de profissionais para uma quantidade exorbitante de alunos, o que não
permite que o estágio tenha a contribuição necessária para a formação dos estudantes e
se choca diretamente com a Resolução CFESS 533/2008, que estabelece a supervisão de
campo de um estudante para cada 10 horas semanais de jornada de trabalho do
assistente social.


Não estamos nesta luta para impedir quem quer que seja de estudar. Pelo
contrário, sempre lutamos pela ampliação do acesso e pela educação como direito de
todos e dever do Estado. Queremos educação com qualidade para todas e todos. A
política em curso não significa democratização do acesso ao ensino superior, mas a
reprodução de informações recolhidas de forma fragmentada da bibliografia da
profissão e transmitidas através de apostilas e manuais de baixa qualidade que não
observam a perspectiva de totalidade e criticidade, comprometendo a formação
profissional e o atendimento à população brasileira. Muitas universidades públicas no
Brasil ainda não oferecem cursos de Serviço Social. Temos ampliado nossas lutas pela
abertura desses cursos com conquistas significativas.


O ônus da política educacional que vem sendo feita por sucessivos governos não
deve recair sobre os estudantes e trabalhadores envolvidos com EaD, e muito menos sobre as entidades de Serviço Social.
Nossa tarefa é cobrar do Estado, especialmente do Ministério da Educação a igualdade de acesso ao ensino superior presencial para todos ea garantia da qualidade da oferta.


Reafirmamos nossa posição contrária à modalidade de ensino de graduação à
distância em serviço social.
Convidamos os estudantes e trabalhadores para se somarem
à luta histórica em defesa do ensino público, universal, gratuito, presencial, laico e de
qualidade. Cobramos do MEC a ampliação de vagas com qualidade para atender a
demanda por ensino superior no Brasil. Convocamos, por fim, o debate público,
democrático e respeitoso sobre essa questão, parametrado pelos princípios que norteiam
o Serviço Social brasileiro.


Campo Grande- MS, 09 de setembro de 2009.


Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa de Serviço Social
Conselho Federal de Serviço Social
Conselhos Regionais de Serviço Social
Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social


Aprovada na Plenária Final do 38º. Encontro Nacional CFESS/ CRESS, realizado de
06 a 09 de setembro de 2009 em Campo Grande-MS